O Brasil, país com o maior número de cirurgiões-dentistas do mundo, está em um momento “divisor de águas” no que diz respeito à Ortodontia tradicional. Mauricio Accorsi, ortodontista antenado nas novidades da área, afirma que houve uma simplificação da especialidade. “Muita gente acredita que a Ortodontia está relacionada apenas ao encaixe de dentes seguindo determinados padrões pré-estabelecidos. Esta abordagem tipo “receita de bolo” não se encaixa a todos os indivíduos e a massificação banalizou a profissão”, afirma Accorsi, mestre pela USP e autor do livro Diagnóstico 3D em Ortodontia, da Editora Napoleão.
Para o especialista, a maior prova de que este modelo está ultrapassado é a quantidade de pacientes que usaram aparelho ortodôntico durante anos e precisam se submeter a novos tratamentos para obter os resultados desejados. “Mais da metade dos meus pacientes são de retratamento hoje em dia. Isto demonstra a necessidade e a urgência do presente e do futuro seguirem por outro caminho – o da personalização e da visão integral do paciente. As funções mais importantes do corpo, como a fala, respiração e a deglutição, dependem da boca, dos músculos, ossos e demais estruturas faciais”, assunto que irá tratar como conferencista no CIOSP 2013, o segundo maior evento da Odontologia mundial, que acontece em São Paulo entre os dias 31 de janeiro e 03 de fevereiro.
O foco não é mais apenas os “dentes tortos”, mas sim como eles afetam a qualidade de vida das pessoas. Dentro de uma equipe interdisciplinar, a Ortodontia pode contribuir para que o paciente respire bem e durma melhor, mastigue adequadamente e consiga se expressar sem vergonha do seu rosto ou dentes. “O alinhamento dentário, associado ao reposicionamento dos ossos da face com cirurgia ortognática, como a mandíbula e a maxila, atua inclusive de maneira rejuvenescedora melhorando a autoestima das pessoas. Ao respirar e dormir melhor, o rosto perde o ar de cansado, e as estruturas faciais posicionadas corretamente deixam a pessoa mais jovem e confiante. Desta forma, a estética do sorriso e da face, aspecto fundamental deste universo, passa a ser tratada dentro de um contexto biopsicossocial”, observa.
A personalização do tratamento conta com o suporte da tomografia de feixe cônico, grande avanço tecnológico que auxilia o profissional a identificar se o problema do paciente está ligado à questões esqueléticas e/ou dentárias e como são as inter-relações entre as estruturas da face, avaliando-se por exemplo, se o ar tem o espaço necessário para chegar aos pulmões e outras questões como o posicionamento 3D das raízes dentárias no osso de suporte. “O exame em terceira dimensão modificou a maneira como o profissional atua. Agora é possível visualizar as articulações, o tecido mole, as vias respiratórias e a anatomia real do paciente em um único exame. O ortodontista pode também planejar de maneira virtual o tratamento, simular as estratégias e observar o resultado final antes mesmo do início do tratamento”, ressalta.
Accorsi, professor convidado da Universidade Federal do Paraná, esclarece que a tomografia não é uma avaliação para ser visualizada no papel, mas sim no computador, de maneira dinâmica. “A tomografia volumétrica possibilita inclusive a simulação de cirurgias e implantes dentários. O profissional faz a cirurgia virtualmente e envia os dados para a produção de um guia cirúrgico, peça usinada em acrílico, que transfere o que foi feito no computador para a realidade com mais precisão. O guia é utilizado durante a intervenção cirúrgica real”, diminuindo o tempo do procedimento e melhorando o pós-operatório, conta.
Fonte: Odonto Magazine