O paciente odontofóbico, ou seja, que apresenta fobia (medo exagerado, intolerância e/ou aversão), por exemplo, à anestesia, vibração do motor, medo de injeção, anestesia, sangue, odor característico de materiais, roupa branca do dentista, pode e deve ser tratado com atenção redobrada. Parece que o tratamento odontológico é um dos procedimentos médicos que mais provoca essas reações e com mais intensidade.
O medo relacionado ao tratamento dentário é cultural e os profissionais sempre se depararam com essa situação, porém é relativamente recente a preocupação do profissional em aliviar esse stress. E é, justamente, a conscientização da necessidade de se ter saúde bucal desde a primeira infância que vem mudando esse panorama.
Na sociedade é possível encontrar o paciente odontofóbico que evita, inclusive, conversar sobre o tema. Com tanto temor, é comum ele ficar longos períodos sem ir ao dentista, gerando problemas odontológicos mais complexos e de maior grau de dificuldade para o tratamento, ou seja, o que poderia ser um simples tratamento de cárie e/ou de periodontia acaba se tornando um problema de saúde bucal e até geral.
Dados apresentados pela Sociedade Americana de Odontologia diz que o Brasil não possui pesquisas oficiais sobre o tema, mas, no entanto, especialistas têm uma projeção de que pelo menos 15% dos brasileiros sofrem com esse medo. Para o Prof. Dr. Frederico Nigro, do Instituto Nigro de Reabilitação e Implantodontia, se formos pensar nos pacientes que têm medo ou não gostam de dentista e dos tratamentos, talvez o número seja até maior, mas, quando falamos de pacientes realmente fóbicos, esse percentual é bem menor girando ao redor de 3% da população.
Mas, o que deve preocupar o cirurgião-dentista é o fato de que a fobia existe e que é preciso lidar com ela. Para contentamento dos pacientes odontofóbicos, segundo o Prof. Nigro, os profissionais têm estado mais atentos a essa questão da Odontofobia, procurando mais informações sobre o tema e como agir perante esses pacientes.
Para o professor, cabe aos profissionais irem desmitificando e orientando os pacientes no sentido oposto a essa questão cultural do medo de ir ao dentista que existe no país. O tema, mais comum do que se possa imaginar, sempre é assunto de conversas entre mulheres, principalmente entre mães, que precisam lidar com o medo das crianças em relação a isso, sendo que elas mesmas sofrem em silêncio com o mesmo sentimento. A verdade é que a visita ao dentista sempre foi associada a castigo, punição, assim como ir ao médico e injeção, que vemos, ainda hoje, ser imposto à criança por suas travessuras.
Uma forma de resolver essas questões seria, de acordo com Prof. Dr. Frederico Nigro, organizar uma atuação conjunta entre os profissionais e suas associações de classe – os conselho e sindicatos, que viesse a atingir diretamente a população.
“Através dos meios de comunicação é possível esclarecer, de forma adequada, que as consultas periódicas ao dentista são benéficas e necessárias, e que, em nenhum momento, esse hábito causa dor ou sofrimento, muito pelo contrário, cria-se o hábito da manutenção e da prevenção”, sugeriu.
No caso das crianças, especificamente, elas têm medo do desconhecido, o que é facilmente contornável por um profissional habilitado e especializado. No entanto, “os familiares normalmente transferem para as crianças os seus medos e seus anseios, o que acaba por dificultar a atuação profissional na reversão do quadro da Odontofobia”, explicou Prof. Dr. Frederico Nigro.
Seja como for, a Odontologia está em constante avanço e por isso não pode mais ser relacionada à dor e ao sofrimento.
Nos últimos 25 anos, a Odontologia mudou muito. “Pesquisas aliadas às novas tecnologias têm proporcionado tratamentos mais eficazes e menos invasivos, como os implantes dentários, os clareamentos, as próteses metal-free, as facetas, entre tantos outros. Hoje as pessoas relacionam a Odontologia muito mais aos tratamentos reabilitadores e estéticos do que a uma intervenção que vá lhes causar dor ou sofrimento”, argumentou o Prof. Nigro.
“De uma maneira geral, para todos os pacientes, podemos oferecer procedimentos que minimizem o desconforto dos tratamentos”, orientou e citou a analgesia inalatória, a sedação consciente, a sedação endovenosa e, quando for o caso, até mesmo a anestesia geral, além dos recursos tecnológicos menos invasivos já citados. Mas advertiu que, na realidade, não se usa a sedação consciente para finalizar um tratamento.
O profissional tem que ter a percepção da necessidade do uso de sedação durante a anamnese para determinados pacientes que apresentem os sinais e sintomas de fobia, ou seja, “situações extremas devem ser evitadas e contornadas com segurança e tranquilidade tanto pelo profissional quanto pela sua equipe, quando for o caso. Mas se não for possível o controle, aí sim é indicado o tratamento com sedação endovenosa ou com anestesia geral”.
Qualquer terapia alternativa que possa ajudar o paciente a controlar seu anseio, seu medo, sua fobia também é bem-vinda.
Além dos Florais, Prof. Nigro citou também a homeopatia, acupuntura, reiki, hipnose, laser e as terapias de relaxamento, como a yoga, meditação, entre tantas outras existentes. “Alguns trabalhos vêm sendo realizados com sucesso em busca de obter embasamento científico para estas terapias”, informou.
O tratamento psicológico e, em alguns casos, intervenção psiquiátrica são necessários para o paciente fóbico. Para Prof. Dr. Frederico Nigro, quando, em determinadas situações, a atuação do dentista se torna limitada frente à fobia do paciente, é imprescindível que seja indicada uma consulta a um terapeuta e/ou a um psiquiatra. Porém, segundo ele, pode-se esbarrar na dificuldade do paciente em aceitar esse tipo de ajuda profissional, ao qual é comum ter resistência, pois também é um problema cultural.
Como para alguns o próprio consultório odontológico já é um ambiente causador de certo temor nos pretensos pacientes, orientou que cabe aos profissionais modificarem a sua aparência, a fim de que os pacientes sintam-se mais à vontade.
O ambiente deve ser acolhedor e relaxante, sons e cheiros característicos do atendimento odontológico não devem ser percebidos pelo paciente, por exemplo.
Na anamnese é dado o primeiro passo para a aproximação do paciente. Nesse momento, o profissional deve ser muito meticuloso e atento às necessidades de quem o procura, observando todas as suas reações. Algumas vezes o próprio paciente relata o seu medo e sua aversão ao tratamento. Mas, é primordial que o profissional esteja apto a reconhecer o paciente fóbico, para que possa direcionar o atendimento de tal forma que o mesmo se sinta seguro no ambiente, com o profissional, ao que está lhe sendo oferecido e na maneira como o tratamento será executado.
Alguns sinais e sintomas transparecem o seu temor, como por exemplo, sudorese em demasia, palidez facial, batimentos cardíacos alterados, respiração ofegante, boca seca, inquietude, ou seja, quando tudo ao seu redor o incomoda. Segundo o Prof. Dr. Frederico Nigro, do Instituto Nigro de Reabilitação e Implantodontia, ainda há casos em que a anamnese é dificultada, especialmente quando o paciente fala pouco e quando oculta informações relevantes.
Ele lembrou que o sucesso de qualquer tratamento está baseado na relação de confiança mútua entre paciente e profissional. O paciente ao procurar um profissional já pressupõe um acordo tácito entre ambas as partes. Essa relação de confiança vai se estreitando à medida que o profissional transmite, com segurança, todas as opções de tratamento possíveis e a maneira que este será executado.
O profissional tem obrigação de passar confiança ao paciente de tal forma que este se sinta seguro e tranquilo o suficientemente para dar continuidade e chegar ao término do tratamento, com o profissional escolhido. Mas, o profissional só consegue passar confiança ao paciente se conhecer profundamente aquilo que está sendo planejado e oferecido.
Por isso, a busca por conhecimentos é fundamental na rotina dos profissionais, embora, o Prof. Dr. Frederico Nigro não tenha visto eventos que abordem o tema Odontofobia, o que faz com que o profissional fique desamparado frente a essa demanda tão comum ainda nos dias de hoje, apesar da evolução da Odontologia. Para tal situação, ele sugere, como alternativa, que os cirurgiões-dentistas mantenham contato e participem de eventos realizados por psicólogos e psiquiatras sobre o tema.